Darmiel apertou o botão e seu torno parou de funcionar. Retirou a ferramenta usada e gasta e foi ao almoxarifado pegar outra. Enquanto trocava o dispositivo, para usinar uma nova peça, olhou a máquina ao lado, desligada há dois dias, esperando um novo profissional, e lembrou de seu antigo operador, o amigo Valtercides, o Cidão. Que vida besta meu Deus!, pensou Darmiel.Seu colega havia sido morto num assalto, quando chegava à noite em casa. Coitado. Logo agora que ele estava tão contente com o torno novo, importado da Alemanha, dotado de comando numérico computadorizado e software de última geração. Cidão havia feito um mês de curso para trabalhar no equipamento. Até algumas palavras de alemão o danado falava.Eles se conheciam desde os tempos de Senai. E lá se iam os anos. Fizeram estágio juntos. Foram efetivados no mesmo dia. Grande amigo, o Cidão, lastimou Darmiel. Quem iria acompanhá-lo agora na cachaça das cinco, no boteco do Paraíba? Toda tarde, logo que saíam do trabalho, tomavam um copo da boa. E agora? Neste instante, Darmiel teve uma idéia. Tomaria dois copos de pinga. Um para ele, outro em homenagem ao amigo, alijado do mundo dos vivos tão precocemente.No início, o botequeiro achou estranho. Mas com o tempo foi se acostumando. Assim que Darmiel entrava no bar, lá vinha o Paraíba com dois copos de cachaça. Ele bebia o seu e lambia o beiço. Depois falava o nome de Cidão e despejava, feliz, o segundo trago goela abaixo.Uma bela tarde, assim que o freguês entrou no boteco, Paraíba depositou os dois copos cheios no balcão, como sempre. Darmiel disse que a partir daquele dia tomaria apenas um copo de pinga. Por que? Indagou o dono do boteco. Ao que Darmiel respondeu: “Parei de beber”.
terça-feira, 3 de maio de 2011
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