Otávio Nunes
Os nomes das personagens são fictícios, mas a história é verdadeira. Ocorreu na redação de um grande jornal paulista em 6 de setembro de 1972
João Bolinha, editor de esportes do famoso diário Verdade Seja Dita, estava escovando os dentes em seu apartamento em Pinheiros, quando ouviu o rádio na cozinha. Saiu correndo do banheiro e foi para perto do aparelho, segurando a escova de dentes na boca e babando pasta de dente pelo chão.
- Violento atentado terrorista na Vila Olímpica em Munique, na Alemanha Ocidental, mata 18 pessoas, entre elas 11 membros e atletas da delegação de Israel e cinco terroristas. Eles pertencem à facção palestina Setembro Negro e seqüestraram atletas judeus para exigir a liberdade de 230 presos políticos palestinos, que estão em Israel. Atiradores de elite alemães abriram fogo contra o grupo no aeroporto de Munique, causando a morte de 16 pessoas. Dois judeus haviam morrido horas antes, na invasão da Vila Olímpica. As autoridades suspenderam os jogos olímpicos hoje, em Munique.
O jornalista, calejado por anos de batalha com a notícia, foi pego de surpresa, porém se recompôs. Bateu levemente na pança e disse para si mesmo. “Desgraça é horrível, mas costuma dar boa matéria. Nosso enviado especial já deve estar escrevendo uma senhora reportagem sobre este atentado.”
Na portaria, no elevador e na redação do jornal o papo era o mesmo. O atentado em Munique. João Bolinha sentou-se à sua mesa e chamou sua equipe de redatores. “Macacada, não esquentem a cabeça com o atentado. Neste momento nosso enviado especial a Munique está escrevendo a matéria e logo logo receberemos pelo telex. Arrumem outro tipo de notícia e não me encham o saco. Falô?.”
O tempo foi passando. Três horas da tarde, cinco, seis, sete, oito da noite e a matéria não chegava. O diretor de redação, Josético da Silva, saiu de seu aquário (sala), pedindo licença ao vereador que o visitava, reclamando de uma notícia publicada pelo jornal naquele dia, e dirigiu-se ao editor de esportes amadores.
- Little ball, já chegou a matéria?
- Inda não, chefe. Tô esperando.
- Não dá ligar pra este enviado especial? Perguntou novamente o diretor.
- As ligações para Munique estão complicadas. Quase nada na cidade deve estar funcionando direito. Só o serviço funerário, chefe.
Josético não desistia
- Pô, Little ball, já tentou o celular e a Internet?
- Mas chefe, estas coisas ainda não foram inventadas. Estamos em 1972.
O diretor de redação voltou para continuar a ouvir o vereador reclamante.
Vinte minutos depois, um dos redatores retira um papel do telex e chama João Bolinha.
- Maravilha. Chegou nossa principal matéria do dia. Viva, viva. Avisem o chefe, esbravejou Bolinha
O renitente e otimista editor pegou rapidamente o papel. O texto se resumia a duas únicas linhas.
“Hoje não enviarei matérias sobre os jogos olímpicos de Munique. A competição foi cancelada por 24 horas por causa de um atentado terrorista." Assinado: Enviado especial, de Munique para o jornal Verdade Seja Dita.
Os nomes das personagens são fictícios, mas a história é verdadeira. Ocorreu na redação de um grande jornal paulista em 6 de setembro de 1972
João Bolinha, editor de esportes do famoso diário Verdade Seja Dita, estava escovando os dentes em seu apartamento em Pinheiros, quando ouviu o rádio na cozinha. Saiu correndo do banheiro e foi para perto do aparelho, segurando a escova de dentes na boca e babando pasta de dente pelo chão.
- Violento atentado terrorista na Vila Olímpica em Munique, na Alemanha Ocidental, mata 18 pessoas, entre elas 11 membros e atletas da delegação de Israel e cinco terroristas. Eles pertencem à facção palestina Setembro Negro e seqüestraram atletas judeus para exigir a liberdade de 230 presos políticos palestinos, que estão em Israel. Atiradores de elite alemães abriram fogo contra o grupo no aeroporto de Munique, causando a morte de 16 pessoas. Dois judeus haviam morrido horas antes, na invasão da Vila Olímpica. As autoridades suspenderam os jogos olímpicos hoje, em Munique.
O jornalista, calejado por anos de batalha com a notícia, foi pego de surpresa, porém se recompôs. Bateu levemente na pança e disse para si mesmo. “Desgraça é horrível, mas costuma dar boa matéria. Nosso enviado especial já deve estar escrevendo uma senhora reportagem sobre este atentado.”
Na portaria, no elevador e na redação do jornal o papo era o mesmo. O atentado em Munique. João Bolinha sentou-se à sua mesa e chamou sua equipe de redatores. “Macacada, não esquentem a cabeça com o atentado. Neste momento nosso enviado especial a Munique está escrevendo a matéria e logo logo receberemos pelo telex. Arrumem outro tipo de notícia e não me encham o saco. Falô?.”
O tempo foi passando. Três horas da tarde, cinco, seis, sete, oito da noite e a matéria não chegava. O diretor de redação, Josético da Silva, saiu de seu aquário (sala), pedindo licença ao vereador que o visitava, reclamando de uma notícia publicada pelo jornal naquele dia, e dirigiu-se ao editor de esportes amadores.
- Little ball, já chegou a matéria?
- Inda não, chefe. Tô esperando.
- Não dá ligar pra este enviado especial? Perguntou novamente o diretor.
- As ligações para Munique estão complicadas. Quase nada na cidade deve estar funcionando direito. Só o serviço funerário, chefe.
Josético não desistia
- Pô, Little ball, já tentou o celular e a Internet?
- Mas chefe, estas coisas ainda não foram inventadas. Estamos em 1972.
O diretor de redação voltou para continuar a ouvir o vereador reclamante.
Vinte minutos depois, um dos redatores retira um papel do telex e chama João Bolinha.
- Maravilha. Chegou nossa principal matéria do dia. Viva, viva. Avisem o chefe, esbravejou Bolinha
O renitente e otimista editor pegou rapidamente o papel. O texto se resumia a duas únicas linhas.
“Hoje não enviarei matérias sobre os jogos olímpicos de Munique. A competição foi cancelada por 24 horas por causa de um atentado terrorista." Assinado: Enviado especial, de Munique para o jornal Verdade Seja Dita.
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