terça-feira, 22 de setembro de 2009

Copo de cada dia


Toninho apertou o botão e seu torno parou de funcionar. Retirou a ferramenta usada e gasta e foi ao almoxarifado pegar outra. Enquanto trocava o dispositivo, para usinar uma nova peça, olhou a máquina ao lado, desligada há dois dias, esperando um novo profissional, e lembrou de seu antigo operador, o amigo Fernando, o Nandão. Que vida besta meu Deus!, pensou Toninho.

Seu colega havia sido morto num assalto, quando chegava à noite em casa. Coitado. Logo agora que ele estava tão contente com o torno novo, importado da Alemanha, dotado de comando numérico computadorizado e software de última geração. Nandão havia feito um mês de curso para trabalhar no equipamento. Até algumas palavras de alemão o danado falava.

Eles se conheciam desde os tempos de Senai. E lá se iam os anos. Fizeram estágio juntos. Foram efetivados no mesmo dia. Grande amigo, o Nandão, lastimou Toninho. Quem iria acompanhá-lo agora na cachaça das cinco, no boteco do Paraíba? Toda tarde, logo que saíam do trabalho, tomavam um copo da boa. E agora? Neste instante, Toninho teve uma idéia. Tomaria dois copos de pinga. Um para ele, outro em homenagem ao amigo, alijado do mundo dos vivos tão precocemente.

No início, Paraíba achou estranho. Mas com o tempo foi se acostumando. Assim que Toninho entrava no boteco, ele vinha com dois copos de cachaça. Toninho bebia o seu e lambia o beiço. Depois falava o nome de Nandão e despejava, feliz, o segundo trago goela abaixo.

Uma bela tarde, assim que o freguês entrou no boteco, Paraíba depositou os dois copos cheios no balcão, como sempre. Toninho disse que a partir daquele dia tomaria apenas um copo de pinga. Por que? Indagou o dono do boteco. Ao que Toninho respondeu: “parei de beber”.

Um comentário: