sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Se não é, deveria...

Otávio Nunes

Doutor Leonílio estava em campanha política à prefeitura de Beiradinha, uma simpática cidade que tem este nome porque foi fundada nas margens de um rio. É o Rio Dorminhoco, que por sua vez tem este nome porque suas águas fluem lentamente, como se estivessem paradas. Por isso, diz a sabedoria do povo autóctone, que a pessoa que olha muito para as águas do rio fica com sono.

Mas voltemos ao Doutor Leonílio, cirurgião-dentista dos “bão”, capaz de extrair dentes sem anestesia e sem dor. Geralmente, o primeiro caso é o que mais ocorre. Vereador por várias legislaturas, o que lhe abriu a possibilidade de dobrar o tamanho de seu consultório, comprar novos equipamentos e dobrar o preço da consulta, Doutor Léo, como é conhecido, adquiriu a fama de jamais esquecer um nome e usa esta habilidade em sua campanha eleitoral a prefeito.
Lá pelas cinco e meia da tarde, Doutor Léo pára no boteco de Artrides para conversar com alguns eleitores que jogam pif-paf, sinuca e tomam cachaça. Em quinze minutos de papo, Doutor Léo bebeu duas pinga e comeu três coxinhas fritas pela mulher de Artrides doze horas antes, lá pelas cinco da manhã. Artrides abre o boteco às seis da manhã para aproveitar o pessoal que vai pegar o trem.
- Seus salgadinhos são deliciosos Artrides. Quem faz? - pergunta o candidato.
- Minha esposa, dotô – responde o botequeiro.
- Parabéns à sua esposa, a... a Dona Dalva – completou orgulhoso de saber o nome de todos na cidade.
- Não, dotô. Ela não se chama Darva.
- Mas deveria, Artrides. É um nome muito bonito, nome de estrela – disse resoluto Doutor Leonílio. E abocanhou outra coxinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário