terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Crônica do nascimento

Uma colega de redação trouxe ao mundo mais um brasileiro. Estas maldigitadas são em homenagem a este pimpolho, que certamente herdará a singeleza materna.

Convivo diariamente e noturnamente com meus lados otimista e pessimista. Ora um se sobrepõe ao outro. Às vezes, até empata. Mas aviso logo: não tenho problemas de dupla personalidade, nem sou psicopata de filme americano. Apenas coordeno, de forma hercúlea e disciplinada, o embate entre a esperança e o ceticismo. Vamos ao meu primeiro lado.

O mundo torna-se a cada dia mais insano. O operário é substituído pelo robô e o neo-liberalismo propõe flexibilização das leis e menos influência do Estado na vida do cidadão, belo discurso para jogar a carteira profissional na obsolescência. Podemos ser encontrado em qualquer lugar a qualquer momento, pelo celular ou e-mail. Antes só a polícia conseguia tal façanha.

A Internet toma o lugar dos livros, minha assinatura deixa de ser manuscrita e vira senha eletrônica, aposentando definitivamente meu talão de cheques. A imprensa abandona a reportagem e publica notícias de agências ou releases de assessoria e o jornal do dia já é capaz de sair no próprio dia.

Os partidos se parecem mais a cada eleição. O revolucionário perdeu a esperança. O de esquerda tornou-se social-democrata e este último virou liberal à moda inglesa. Só o conservador continua fiel a seus princípios.

Minha querida MPB, que acompanho desde quando Chico e Vandré ganharam o festival da Record, some das rádios e das lojas de discos. Estas, por sua vez, também desaparecem. Cinemas? Só nos shoppings, esta praga do consumismo americano, que acaba com o comércio de rua e leva bairros inteiros à decadência urbana. Até o gerúndio (praga II) “está tomando” o lugar do presente do indicativo.

Agora chega. Abandono o apocalipse e adoto as alvíssaras. O mundo sempre esteve em constante mudança e não podemos nos sentar no banco da estação nostalgia à espera de um trem que passou. Acompanhemos, portanto, as novidades e nos adaptemos às mudanças sem perder a essência.

O mundo está aquém da perfeição e o ser humano, anos luz da tolerância. Mas é aqui, neste planeta, que viveram nossos ancestrais e será o lar dos que estão por chegar.

Garoto, rebento, guri, pedacinho de gente, bem-vindo seja. Você tornará este mundo melhor.

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