segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Encontro de Natal


Otávio Nunes

Dois amigos se cruzam numa loja de roupas dentro de um shopping center, às vésperas do Natal. Havia anos não se encontravam. Abraçam-se efusivamente, várias tapinhas nas costas, beijos na face da esposa do outro e várias exclamações de espanto que só tempo longo traz à tona: “Nossa senhora, como seu filho cresceu. Era um merdinha deste tamanho”, “a sua menina também está grande, lembro-me que a carreguei no colo e ela até fez xixi na minha gravata”.

As duas famílias ficam juntas dentro da loja, a comprar roupas. Um dos amigos compra uma gravata nova para o colega: “Esta é para compensar aquela do xixi”. O outro também presenteia o amigo, com uma camiseta. “Lembra-se que certa feita você me emprestou uma e nunca mais devolvi?” Depois, vão almoçar.

- Você ainda continua com aquela empresa de consultoria financeira?
- Sim. Tem cliente que me paga bem para aconselhá-lo a perder dinheiro. E você? Ainda tem seu escritório de advocacia?
- Sim. Meus clientes também me pagam bons honorários para eu que perca seus processos.
- Somos dois picaretas, então?
- Claro que somos.

Ambos riem das brincadeiras. As duas esposas, como não se lembram muito bem uma da outra, apenas trocam olhares e pequenos comentários à mesa. O menino e a menina brincam com seus aparelhos celulares.

Após o almoço, os amigos trocam números de telefones, cartões de visita e se comprometem a se ver novamente, sair juntos para ir um restaurante ou coisa assim. Desejam feliz natal, próspero ano novo e felicidades mil. Abraçam-se, beijam-se e se despedem com a ilusão de se ver novamente. Mas no fundo sabem que suas vidas estão por demais resolvidas e independentes e que dificilmente se encontrarão novamente. No próximo Natal, quem sabe.

Um comentário:

  1. Cara, eu ando me culpando por ainda não ter escrevido nada sobre o natal e saboreio cada texto que você posta sobre o tema.Valeu pelo texto!

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