quinta-feira, 19 de março de 2009

Inveja X gratidão


Otávio Nunes

Roberta chegou ao escritório, sentou-se à mesa e abriu a gaveta para pegar os papéis do trabalho. Sua cabeça, no entanto, estava nas dívidas, pois devia uma quantia razoável ao agiota e seu carro era a garantia de pagamento. Nem se lembrava mais como havia chegado àquela situação, só sabia que tinha de se safar.

No final do dia, pouco antes de ir embora, ela foi ao banheiro e quase trombou com Cleide, outra funcionária, que saía do local. Na pia do lavatório, Roberta encontrou um colar de diamantes. Pegou o objeto e percebeu que o fecho estava quebrado. Era de Cleide. Já tinha visto a jóia no pescoço da colega, uma única vez, porém, numa festa de confraternização de final de ano na empresa.

Não gostava de Cleide. Havia tempos que a odiava, sutilmente, e nem aceitava convite dela para saírem juntas na hora do almoço. Achava que Cleide tinha recebido a promoção que ela, Roberta, merecia, por ser mais antiga de empresa. Outro fato que nutria a inveja, era o marido de Cleide: bonito e bem-sucedido na profissão. E Roberta ainda ansiava pelo casamento. “Ela nem precisa do cargo que ocupa, seu marido já ganha muito bem”, raciocinou Roberta enquanto admirava o colar.

Furtiva, ela achou um modo de apaziguar as investidas do agiota, que toda semana ligava para ela. Através da janela do banheiro, viu Cleide sair pela portaria. Não teve dúvidas. Pegou o colar, enfiou no bolso da blusa e saiu. Assim que pegou a bolsa para ir embora, percebeu que havia esquecido de urinar, entretida pelo achado. Retornou ao banheiro.

De volta à mesa, enquanto pegava a bolsa, sentiu o peso de uma mão na blusa. Era Cleide que recuperava sua jóia, pois um pedaço do colar tinha ficado para fora do bolso. Estupefata e envergonhada. Roberta olhou para Cleide, que disse.
- Oh amiga! Muito obrigada por ter achado meu colar no banheiro e guardado no bolso para me devolver depois.
Pega de surpresa, Roberta não sabia o que dizer e recebeu um abraço efusivo de Cleide.
- Eu sabia que podia contar com você. Quando notei a falta do colar, lembrei-me que você tinha entrado no banheiro depois de mim. Se eu perder esta jóia, não sei o que dizer a meu marido. É um presente de dez anos de casamento, que ele comprou numa viagem ao exterior. Raramente uso este colar. Só peguei para levá-lo à joalheria para consertar o fecho. E quase o perdi, se não fosse você. Meu Deus, Roberta, você é maravilhosa. Amanhã eu pago um almoço num restaurante chique. Pode escolher qual. Você merece recompensa.
Beijou novamente a amiga e foi embora. Roberta continuou atônita, sem dizer palavra.

terça-feira, 17 de março de 2009

Tá estressado? Vá pescar!!


Otávio Nunes

Este artigo se refere a pesqueiros na Região Metropolitana de São Paulo (a Capital). Não sei como são em outras localidades e Estados do Brasil. Mas acredito que não sejam muito diferente.

Ao falar em pescador, não pode faltar história. Lembro-me de um causo que ouvi num pesqueiro em Jundiaí, ano passado. O homem ao meu lado me disse que certa feita foi pescar com um amigo na lagoa de Piracaia, na região da Mantiqueira. Num arremesso desajeitado, se desequilibrou e caiu na água. O outro, que nada viu, perguntou depois o que tinha acontecido. Para não passar vergonha, ele disse que fisgou um peixe tão grande que o derrubou na água e quase o levou ao fundo. “E o seu amigo acreditou?”, perguntei eu. “Pelo menos não duvidou”, respondeu o pescador a meu lado, sorrindo.

Em São Paulo, pescador só tem mesmo pesqueiro para dar banho na minhoca. Se for a um rio, só pega bota velha e garrafa PET. O número desses estabelecimentos cresce na Grande São Paulo e alguns até se transformam em enormes complexos de entretenimento com restaurante, pousada, playground, piscina e outras atrações.

Há duas modalidades de pescaria: pesque-pague e pesque-solte (a esportiva). Na primeira, a pessoa paga pelo quilo e na segunda devolve o peixe à água. Mas quem for a um pesgue-pague na esperança de comer peixe mais barato, esqueça. Pode ser mais caro. O quilo da tilápia, por exemplo, sai por volta de R$ 7. Espécies nobres, como pintado e dourado, chegam a custar mais de R$ 12 o quilo. E o primeiro deles costuma pesar mais de cinco quilos cada. Ao fazer as contas, é melhor comprar no mercado. Só que lá, você não terá a diversão de sentir o bicho puxar a linha e envergar a vara. Pesqueiro não é para encher barriga, mas para se divertir. É este o espírito.

Por isso, a cada dia cresce mais a pesca esportiva. Na Grande São Paulo, o pesque-solte custa de R$ 15 a R$ 30 reais a diária, geralmente de sete da matina às 18 horas, e o pescador pega e solta quantos quiser. Não é aconselhável praticar a esportiva com intenção de levar o peixe. Custa os olhos da cara. E tem lógica. O proprietário prefere o bicho nadando para satisfazer o público do que na panela do pescador. Por isso, todo bom pesqueiro reserva lagos diferentes para as duas modalidades. Obviamente, a lagoa da esportiva tem peixes maiores e menos tilápia.

Pesca-se de duas maneiras: anzol parado no fundo do lago, com chumbada, ou em linha suspensa e presa na bóia, com mais ou menos um metro abaixo da água. A distância pode ser regulada com a descida ou subida da bóia. O primeiro caso, o mais comum, é para peixes de fundo, como pacu, pintado, catfish, pirarara, carpa. Na bóia, pega-se os de superfície, como matrinxã, dourado, tilápia, piau e também bagre e carpa.

Para espécies menores, tilápia, piau e catfish, que oscilam de 500 gramas a 3 quilos, o ideal é usar vara de mão. Pacu, matrinxã, dourado, pintado, carpa-cabeçuda e pirarara somente no molinete ou carretilha. São peixes difíceis de tirar da água, por bravura ou tamanho. Pacu, matrinxã, dourado, pintado e pirarara costumam dar espetáculo e inflar o pescador de orgulho.

Peixes comuns em pesqueiros

- Tilápia: Presença obrigatória. Mas não é brasileira. Começou a povoar nossas águas no século passado, vinda da África. É uma dádiva dos deuses do Nilo: peixe sem frescura, permite cultura comercial, cruzamento, come de tudo, vive em água quente e pouco oxigenada, fácil de pegar, barato (exceto o filé da variedade Saint Peters), abundante e de carne deliciosa. Iscas: minhoca, massinha e salsicha.

- Carpa: Também estrangeira. Há três tipos nos pesqueiros: a húngara (ou espelhada), a capim e a cabeçuda. Espécie dócil, não oferece muita resistência, exceto a cabeçuda, pelo peso, pois ultrapassa 10 quilos. Sua carne não é muito apreciada, embora seja vendida normalmente. Iscas: as mesmas da tilápia.

- Catfish: Embora norte-americano, é o bagre mais famoso do pesqueiro e fácil de pegar. Enquanto uma crendice popular diz que sua carne tem gosto de terra, outros garantem ser bobagem. Como todo representante da família dos bagres, é carnudo, pouco espinho. Ideal para assar ou fazer moqueca. Iscas: massinha, salsicha, fígado de boi, filé de tilápia, bacon.

- Pintado ou cachara: No mercado, recebem sempre o nome de pintado. O primeiro, claro, tem pintas no corpo. Já o cachara é listrado, como tigre. Mesmo assim, é difícil diferenciar. Ultrapassam 10 quilos, numa boa. Um chef de cozinha disse certa vez que o pintado é o salmão brasileiro. Com razão. Esse bagrão cabeçudo tem carne nobre.

- Pacu e seus primos Tambaqui e Tambacu: Ótimos para se pescar. Fortes e briguentos, puxam a linha para todo lado da lagoa e dão trabalho para tirar da água. Pesam de 5 a 15 quilos. São parentes da piranha, mas sem a má fama. Carne razoável e vendida no comércio. Iscas: massinha, salsicha, coração de galinha, pedaço de fígado, goiaba.

- Matrinxã: Bastante esportiva e briguenta. Fisgada, dá saltos na água e trabalho para sair. Pesa de 3 a 10 quilos e sua carne, espinhosa ao extremo, não é muito apreciada. Iscas: massinha, salsicha, miolo de pão, goiaba.

- Dourado: Belo e voraz, é o rei da água doce brasileira. Dá saltos como a matrinxã. Sua carne é razoável e encontrável no mercado. Isca: a melhor é o peixe vivo, uma pequena tilápia, por exemplo, mas com muita fome também vem na salsicha.

- Pirarara: Nova nos pesqueiros e alguns nem a tem. Concorre em beleza com o dourado, com sua cor cinza/esbranquiçada, listras laterais amarelas e nadadeiras vermelhas. Um charme. Ao ser retirado da água, este bagrão brasileiro emite um som (buuuf!). Há relatos de que a pirarara ataca seres humanos, principalmente crianças, na natureza. Mas certamente não é para comer, talvez para demarcar território. Não tenho informações sobre a carne. Iscas: filezinhos de peixe, salsicha, fígado e até massinha.

Há vários sites sobre o assunto na internet, com endereços de pesqueiros. Cito dois: www.clickpesca.com.br e www.pescar.com.br.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Ainda resta o coração

Otávio Nunes

Fiz uma matéria este mês numa penitenciária feminina, cá, na capital paulista. A pauta abordou um programa de leitura para as presas ministrado por dois bibliotecários, mantidos por uma faculdade privada. Uma atitude interessante e bem-intencionada.

Uma vez por semana, a dupla visita a prisão e lê textos literários ou da imprensa e discute temas da atualidade ou do cotidiano, como família, filhos, crise internacional etc. Também levam música, encenações teatrais e outras coisas, sempre com a participação das presas interessadas. Tudo para estimular leitura e reflexão entre elas. Entrevistei a diretora-geral, a diretora de educação, os dois bibliotecários e quatro detentas partícipes das sessões de leitura. Pena que a frequência ao curso seja muito baixa: mais ou menos 40 mulheres num universo de quase 700. Mas antes alguns pingos no oceano do que baldes de areia.

Sentei-me a uma mesa, por causa do meu bloquinho de anotações, pois só uso gravador por ordem judicial. Tal equipamento é atraso de vida. Repórter tem de guardar informações no bloco e na cabeça. Lembro-me que quando era foca (iniciante na profissão) fiz uma entrevista com gravador. Gente, eu consegui esquecer o aparelho na mesa do entrevistado e voltei de mãos vazias à redação. Durante um mês, fui motivo de chacota no trabalho. Fiquei traumatizado e nunca mais usei gravador.

Voltemos à penitenciária. Eu entrevistei cada uma delas por cinco minutos, mais ou menos. Na verdade, eu estava com pressa porque faltava pouco para o meio-dia, hora do almoço delas. Aliás, naquele dia, elas iriam comer um peixe delicioso, cujo aroma incitava meu apetite. Pois bem, em cadeia geralmente o preso gosta de estar na fila do bandejão logo que começam a servir. Pelo menos foi o que ouvi de funcionários em algumas prisões do Estado em que já estive fazendo reportagens. Por isso, minha pressa se justificava.

A terceira presa sentou-se à minha frente e lhe perguntei, mas não de uma só vez, nome, idade, que tipo de crime o Estado imputou a ela e a pena recebida. Inesperadamente, ela começou a chorar. Uma situação atípica para mim. Já visitei uma dezena de penitenciárias no Estado, sem contar as unidades de menores infratores, sempre a fazer matérias sobre cursos, oficinas de trabalho, de artesanato, culturais e outros projetos de ressocialização do preso. Passei por muitos momentos de emoção, ouvindo homem, mulher, adolescente. Na verdade, era a segunda prisão feminina que eu visitava. No entanto, choro, até então, não. Por instantes, fiquei sem ação e ela, envergonhada, tapou o rosto com as mãos.

Esperei alguns segundos e procurei levantar seu astral. Autoestima é a característica humana mais escassa para quem vive atrás das grades. Disse a ela que não precisava ficar envergonhada. Podia derramar lágrimas à vontade, porque todos nós choramos em determinadas situações. “É sinal que você tem coração”, afirmei, e deu certo. Ela enxugou o rosto com as costas da mão e continuamos a entrevista.

Ela e outras duas colegas que ouvi foram condenadas por tráfico de drogas, a maldição de nossa juventude. A quarta entrevistada, a mais velha delas, cumpria pena por estelionato. Essa penitenciária feminina é de regime semiaberto, em que as presas podem trabalhar fora e dormir na prisão e também visitar parentes em datas comemorativas, como Dia das Mães, Natal, Ano Novo. Na verdade, quase todas estão prestes a ganhar a liberdade, pois já cumpriram a maior parte da pena em outras cadeias, as de regime fechado. Minha amiga chorona talvez volte para sua família ainda este ano.

O contrário já aconteceu, também. O dia em que o repórter chorou. Faz alguns anos, fui fazer matéria numa penitenciária de segurança máxima, no interior paulista, não lembro qual cidade. A pauta era sobre uma oficina de trabalho dentro da unidade. Era uma fabriquinha de cadeira, ou de roupa ou de boné, não me lembro ao certo.

No final da visita, como de praxe em minha forma de trabalhar, ouvi os presos da oficina. Apesar de oferecer apenas umas cinquenta vagas, num universo de mais de mil homens presos, a fábrica também acrescentava alguns pingos ao mar. O trabalhador faturava um trocadinho todo mês, ocupava seu tempo com algo útil, aprendia uma profissão e ainda reduzia sua pena: três dias de trabalho significam um a menos na condenação.

Um deles cumpria pena alta, não lembro, mas devia ser por volta de 20 anos. Estava há mais de 15 na cadeia. Seu crime, latrocínio. Não sou advogado, mas acredito que este ilícito seja um dos mais graves em nossos códigos. O infeliz tinha passado por várias penitenciárias. Era, até, sobrevivente do massacre do Carandiru, triste episódio da cidade de São Paulo ocorrido em outubro de 1992, quando 111 presos foram mortos por forças policiais, numa rebelião. Aliás, o tema virou livro e depois um ótimo filme de Hector Babenco.

Pois bem, o homem tinha mais de 50 anos e trabalhava na oficina. No final da entrevista, perguntei o que faria quando deixasse a cadeia. Ele me disse que não sabia, porque tinha perdido contato com os poucos parentes que deixara no mundo de fora, embora fosse casado e tivesse dois filhos. Há muitos anos não recebia visita, carta ou qualquer demonstração de apreço por parte de parente ou conhecido. Encerrei a entrevista naquele momento. Nada mais havia a perguntar.

Na volta à redação, dentro do automóvel da empresa, a lembrança daquele homem perdido no mundo veio à minha mente. Que futuro ele teria fora das grades? Quem iria esperá-lo na porta no dia em que ganhasse liberdade? Depois de muita pergunta sem resposta, um fio lágrima caiu de meus olhos. O fotógrafo, sentado a meu lado, perguntou o que acontecia. Eu disse, então: “um cisco caiu no meu olho”.

Um outro fato me chocou deveras, embora sem direito a choro, por parte do entrevistado ou do perguntador. Em matéria que fiz numa unidade de menores, que em São Paulo chama-se hoje Fundação Casa, a antiga Febem, perguntei a um garoto porque roubava. Envergonhado, ele me respondeu que começou a surrupiar o bem alheio por sugestão e insistência de sua mãe, que o incitava com o pretexto de não ter o que comer em casa. Incrédulo, questionei a veracidade da história com um dos professores que trabalhavam com o grupo de adolescentes. Ele confirmou. O menino roubava a pedido da mãe.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Oito de março


Otávio Nunes

“Maria, Maria, quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” (Milton Nascimento e Fernando Brant)

Maria Aurelina levanta cedo, faz o café, vai à padaria comprar pães, acorda as crianças para irem à escola e prepara o café com leite delas. Despede-se dos filhos e se encaminha ao tanque, onde quilos de roupa a esperam. Na hora do almoço, refoga dois copos de arroz, pega na geladeira a vasilha com o feijão cozido no dia anterior, frita um ovo e come sozinha, na mesa da cozinha. Neste momento, escuta no rádio “hoje é oito de março, Dia Internacional da Mulher”. Verifica se a comida que sobrou vai dar para a janta e volta ao tanque. Horas depois, Aurelina enche três varais com roupas das crianças, do marido e algumas peças suas.

À noite, cozinha alguns bifes de carne de segunda. Seu marido, com um copo de cerveja na mão, reclama que a carne, que ele mesmo comprou, está dura, parece borracha. As crianças comem quietas. E Aurelina, finalmente, estatela o corpo no sofá para assistir à novela. Vai dormir depois dos filhos e espera que o marido volte bêbado do bar onde foi jogar sinuca e pif-paf. Dormem como dois tijolos, lado a lado.

Doutora Maria Beatriz veste seu conjunto bege, dá ordens aos empregados da casa, escolhe o uniforme das crianças, toma um copo de chá indiano, come duas torradas e chama o motorista. Num dia de extenso trabalho, ela participa de reunião com a diretoria, pela manhã.

Na hora do almoço, enquanto degusta um filé de robalo com molho de champingnon e salada de endívias chilenas, Beatriz conversa com o presidente do banco a respeito de um empréstimo para expandir sua produção. Liga duas vezes do celular para a secretária a fim de saber se sua audiência com o ministro da Economia já está marcada. Neste momento, a operadora telefônica emite mensagem no aparelho informando que é oito de março, Dia Internacional da Mulher. À tarde, ela atende quatro clientes, um secretário municipal e um padre da Opus Dei.

Maria Vesga é sacudida em sua cama pela sua colega de cela, que lhe informa que é oito de março, Dia Internacional da Mulher. Enquanto penteia seus cabelos num espelho velho e quebrado, Maria lembra de seus filhos que ficaram sob a tutela do Estado, no Juizado de Menores. Um deles, o menor, já foi adotado por uma família. O outro, espera num orfanato que sua mãe vá buscá-lo, um dia.

Come o pão com manteiga e bebe uma caneca de café frio, tão gelado como as paredes de sua cela. No almoço, o bandejão oferece arroz, feijão e carne moída. Maria Vesga, que adquiriu estrabismo na cadeia, só lembra de três dias em sua vida. Quando a polícia a prendeu em casa, quando o juiz pediu que ela se levantasse para ouvir a sentença de doze anos de prisão e da última vez que viu seu casal de filhos. Quem sabe, a partir de hoje, oito de março, ela acrescente mais uma data em sua escassa memória.