Otávio Nunes
Este artigo se refere a pesqueiros na Região Metropolitana de São Paulo (a Capital). Não sei como são em outras localidades e Estados do Brasil. Mas acredito que não sejam muito diferente.
Ao falar em pescador, não pode faltar história. Lembro-me de um causo que ouvi num pesqueiro em Jundiaí, ano passado. O homem ao meu lado me disse que certa feita foi pescar com um amigo na lagoa de Piracaia, na região da Mantiqueira. Num arremesso desajeitado, se desequilibrou e caiu na água. O outro, que nada viu, perguntou depois o que tinha acontecido. Para não passar vergonha, ele disse que fisgou um peixe tão grande que o derrubou na água e quase o levou ao fundo. “E o seu amigo acreditou?”, perguntei eu. “Pelo menos não duvidou”, respondeu o pescador a meu lado, sorrindo.
Em São Paulo, pescador só tem mesmo pesqueiro para dar banho na minhoca. Se for a um rio, só pega bota velha e garrafa PET. O número desses estabelecimentos cresce na Grande São Paulo e alguns até se transformam em enormes complexos de entretenimento com restaurante, pousada, playground, piscina e outras atrações.
Há duas modalidades de pescaria: pesque-pague e pesque-solte (a esportiva). Na primeira, a pessoa paga pelo quilo e na segunda devolve o peixe à água. Mas quem for a um pesgue-pague na esperança de comer peixe mais barato, esqueça. Pode ser mais caro. O quilo da tilápia, por exemplo, sai por volta de R$ 7. Espécies nobres, como pintado e dourado, chegam a custar mais de R$ 12 o quilo. E o primeiro deles costuma pesar mais de cinco quilos cada. Ao fazer as contas, é melhor comprar no mercado. Só que lá, você não terá a diversão de sentir o bicho puxar a linha e envergar a vara. Pesqueiro não é para encher barriga, mas para se divertir. É este o espírito.
Por isso, a cada dia cresce mais a pesca esportiva. Na Grande São Paulo, o pesque-solte custa de R$ 15 a R$ 30 reais a diária, geralmente de sete da matina às 18 horas, e o pescador pega e solta quantos quiser. Não é aconselhável praticar a esportiva com intenção de levar o peixe. Custa os olhos da cara. E tem lógica. O proprietário prefere o bicho nadando para satisfazer o público do que na panela do pescador. Por isso, todo bom pesqueiro reserva lagos diferentes para as duas modalidades. Obviamente, a lagoa da esportiva tem peixes maiores e menos tilápia.
Pesca-se de duas maneiras: anzol parado no fundo do lago, com chumbada, ou em linha suspensa e presa na bóia, com mais ou menos um metro abaixo da água. A distância pode ser regulada com a descida ou subida da bóia. O primeiro caso, o mais comum, é para peixes de fundo, como pacu, pintado, catfish, pirarara, carpa. Na bóia, pega-se os de superfície, como matrinxã, dourado, tilápia, piau e também bagre e carpa.
Para espécies menores, tilápia, piau e catfish, que oscilam de 500 gramas a 3 quilos, o ideal é usar vara de mão. Pacu, matrinxã, dourado, pintado, carpa-cabeçuda e pirarara somente no molinete ou carretilha. São peixes difíceis de tirar da água, por bravura ou tamanho. Pacu, matrinxã, dourado, pintado e pirarara costumam dar espetáculo e inflar o pescador de orgulho.
Peixes comuns em pesqueiros
- Tilápia: Presença obrigatória. Mas não é brasileira. Começou a povoar nossas águas no século passado, vinda da África. É uma dádiva dos deuses do Nilo: peixe sem frescura, permite cultura comercial, cruzamento, come de tudo, vive em água quente e pouco oxigenada, fácil de pegar, barato (exceto o filé da variedade Saint Peters), abundante e de carne deliciosa. Iscas: minhoca, massinha e salsicha.
- Carpa: Também estrangeira. Há três tipos nos pesqueiros: a húngara (ou espelhada), a capim e a cabeçuda. Espécie dócil, não oferece muita resistência, exceto a cabeçuda, pelo peso, pois ultrapassa 10 quilos. Sua carne não é muito apreciada, embora seja vendida normalmente. Iscas: as mesmas da tilápia.
- Catfish: Embora norte-americano, é o bagre mais famoso do pesqueiro e fácil de pegar. Enquanto uma crendice popular diz que sua carne tem gosto de terra, outros garantem ser bobagem. Como todo representante da família dos bagres, é carnudo, pouco espinho. Ideal para assar ou fazer moqueca. Iscas: massinha, salsicha, fígado de boi, filé de tilápia, bacon.
- Pintado ou cachara: No mercado, recebem sempre o nome de pintado. O primeiro, claro, tem pintas no corpo. Já o cachara é listrado, como tigre. Mesmo assim, é difícil diferenciar. Ultrapassam 10 quilos, numa boa. Um chef de cozinha disse certa vez que o pintado é o salmão brasileiro. Com razão. Esse bagrão cabeçudo tem carne nobre.
- Pacu e seus primos Tambaqui e Tambacu: Ótimos para se pescar. Fortes e briguentos, puxam a linha para todo lado da lagoa e dão trabalho para tirar da água. Pesam de 5 a 15 quilos. São parentes da piranha, mas sem a má fama. Carne razoável e vendida no comércio. Iscas: massinha, salsicha, coração de galinha, pedaço de fígado, goiaba.
- Matrinxã: Bastante esportiva e briguenta. Fisgada, dá saltos na água e trabalho para sair. Pesa de 3 a 10 quilos e sua carne, espinhosa ao extremo, não é muito apreciada. Iscas: massinha, salsicha, miolo de pão, goiaba.
- Dourado: Belo e voraz, é o rei da água doce brasileira. Dá saltos como a matrinxã. Sua carne é razoável e encontrável no mercado. Isca: a melhor é o peixe vivo, uma pequena tilápia, por exemplo, mas com muita fome também vem na salsicha.
- Pirarara: Nova nos pesqueiros e alguns nem a tem. Concorre em beleza com o dourado, com sua cor cinza/esbranquiçada, listras laterais amarelas e nadadeiras vermelhas. Um charme. Ao ser retirado da água, este bagrão brasileiro emite um som (buuuf!). Há relatos de que a pirarara ataca seres humanos, principalmente crianças, na natureza. Mas certamente não é para comer, talvez para demarcar território. Não tenho informações sobre a carne. Iscas: filezinhos de peixe, salsicha, fígado e até massinha.
Há vários sites sobre o assunto na internet, com endereços de pesqueiros. Cito dois: www.clickpesca.com.br e www.pescar.com.br.
Este artigo se refere a pesqueiros na Região Metropolitana de São Paulo (a Capital). Não sei como são em outras localidades e Estados do Brasil. Mas acredito que não sejam muito diferente.
Ao falar em pescador, não pode faltar história. Lembro-me de um causo que ouvi num pesqueiro em Jundiaí, ano passado. O homem ao meu lado me disse que certa feita foi pescar com um amigo na lagoa de Piracaia, na região da Mantiqueira. Num arremesso desajeitado, se desequilibrou e caiu na água. O outro, que nada viu, perguntou depois o que tinha acontecido. Para não passar vergonha, ele disse que fisgou um peixe tão grande que o derrubou na água e quase o levou ao fundo. “E o seu amigo acreditou?”, perguntei eu. “Pelo menos não duvidou”, respondeu o pescador a meu lado, sorrindo.
Em São Paulo, pescador só tem mesmo pesqueiro para dar banho na minhoca. Se for a um rio, só pega bota velha e garrafa PET. O número desses estabelecimentos cresce na Grande São Paulo e alguns até se transformam em enormes complexos de entretenimento com restaurante, pousada, playground, piscina e outras atrações.
Há duas modalidades de pescaria: pesque-pague e pesque-solte (a esportiva). Na primeira, a pessoa paga pelo quilo e na segunda devolve o peixe à água. Mas quem for a um pesgue-pague na esperança de comer peixe mais barato, esqueça. Pode ser mais caro. O quilo da tilápia, por exemplo, sai por volta de R$ 7. Espécies nobres, como pintado e dourado, chegam a custar mais de R$ 12 o quilo. E o primeiro deles costuma pesar mais de cinco quilos cada. Ao fazer as contas, é melhor comprar no mercado. Só que lá, você não terá a diversão de sentir o bicho puxar a linha e envergar a vara. Pesqueiro não é para encher barriga, mas para se divertir. É este o espírito.
Por isso, a cada dia cresce mais a pesca esportiva. Na Grande São Paulo, o pesque-solte custa de R$ 15 a R$ 30 reais a diária, geralmente de sete da matina às 18 horas, e o pescador pega e solta quantos quiser. Não é aconselhável praticar a esportiva com intenção de levar o peixe. Custa os olhos da cara. E tem lógica. O proprietário prefere o bicho nadando para satisfazer o público do que na panela do pescador. Por isso, todo bom pesqueiro reserva lagos diferentes para as duas modalidades. Obviamente, a lagoa da esportiva tem peixes maiores e menos tilápia.
Pesca-se de duas maneiras: anzol parado no fundo do lago, com chumbada, ou em linha suspensa e presa na bóia, com mais ou menos um metro abaixo da água. A distância pode ser regulada com a descida ou subida da bóia. O primeiro caso, o mais comum, é para peixes de fundo, como pacu, pintado, catfish, pirarara, carpa. Na bóia, pega-se os de superfície, como matrinxã, dourado, tilápia, piau e também bagre e carpa.
Para espécies menores, tilápia, piau e catfish, que oscilam de 500 gramas a 3 quilos, o ideal é usar vara de mão. Pacu, matrinxã, dourado, pintado, carpa-cabeçuda e pirarara somente no molinete ou carretilha. São peixes difíceis de tirar da água, por bravura ou tamanho. Pacu, matrinxã, dourado, pintado e pirarara costumam dar espetáculo e inflar o pescador de orgulho.
Peixes comuns em pesqueiros
- Tilápia: Presença obrigatória. Mas não é brasileira. Começou a povoar nossas águas no século passado, vinda da África. É uma dádiva dos deuses do Nilo: peixe sem frescura, permite cultura comercial, cruzamento, come de tudo, vive em água quente e pouco oxigenada, fácil de pegar, barato (exceto o filé da variedade Saint Peters), abundante e de carne deliciosa. Iscas: minhoca, massinha e salsicha.
- Carpa: Também estrangeira. Há três tipos nos pesqueiros: a húngara (ou espelhada), a capim e a cabeçuda. Espécie dócil, não oferece muita resistência, exceto a cabeçuda, pelo peso, pois ultrapassa 10 quilos. Sua carne não é muito apreciada, embora seja vendida normalmente. Iscas: as mesmas da tilápia.
- Catfish: Embora norte-americano, é o bagre mais famoso do pesqueiro e fácil de pegar. Enquanto uma crendice popular diz que sua carne tem gosto de terra, outros garantem ser bobagem. Como todo representante da família dos bagres, é carnudo, pouco espinho. Ideal para assar ou fazer moqueca. Iscas: massinha, salsicha, fígado de boi, filé de tilápia, bacon.
- Pintado ou cachara: No mercado, recebem sempre o nome de pintado. O primeiro, claro, tem pintas no corpo. Já o cachara é listrado, como tigre. Mesmo assim, é difícil diferenciar. Ultrapassam 10 quilos, numa boa. Um chef de cozinha disse certa vez que o pintado é o salmão brasileiro. Com razão. Esse bagrão cabeçudo tem carne nobre.
- Pacu e seus primos Tambaqui e Tambacu: Ótimos para se pescar. Fortes e briguentos, puxam a linha para todo lado da lagoa e dão trabalho para tirar da água. Pesam de 5 a 15 quilos. São parentes da piranha, mas sem a má fama. Carne razoável e vendida no comércio. Iscas: massinha, salsicha, coração de galinha, pedaço de fígado, goiaba.
- Matrinxã: Bastante esportiva e briguenta. Fisgada, dá saltos na água e trabalho para sair. Pesa de 3 a 10 quilos e sua carne, espinhosa ao extremo, não é muito apreciada. Iscas: massinha, salsicha, miolo de pão, goiaba.
- Dourado: Belo e voraz, é o rei da água doce brasileira. Dá saltos como a matrinxã. Sua carne é razoável e encontrável no mercado. Isca: a melhor é o peixe vivo, uma pequena tilápia, por exemplo, mas com muita fome também vem na salsicha.
- Pirarara: Nova nos pesqueiros e alguns nem a tem. Concorre em beleza com o dourado, com sua cor cinza/esbranquiçada, listras laterais amarelas e nadadeiras vermelhas. Um charme. Ao ser retirado da água, este bagrão brasileiro emite um som (buuuf!). Há relatos de que a pirarara ataca seres humanos, principalmente crianças, na natureza. Mas certamente não é para comer, talvez para demarcar território. Não tenho informações sobre a carne. Iscas: filezinhos de peixe, salsicha, fígado e até massinha.
Há vários sites sobre o assunto na internet, com endereços de pesqueiros. Cito dois: www.clickpesca.com.br e www.pescar.com.br.
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