terça-feira, 14 de abril de 2009

Na cesta!


Otávio Nunes

Fazia 10 minutos que Sorvetinho tinha entrado na quadra. Era a última esperança do técnico para ganhar aquela final de basquete. No entanto, o outrora Rei da Cesta não conseguiu encaixar nenhuma bola. O jogo se encaminhava para o final e seu time perdia. Sorvetinho, um jogador de dois metros e cinco centímetros de altura, mais magro que modelo de passarela, tinha os ombros caídos. Com os braços soltos e pernas juntas, parecia realmente um picolé, daí seu apelido.

Se já não bastasse a má fase experimentada durante todo o campeonato, ele se sentiu mais irritado ainda com o comportamento antiesportivo de um torcedor atrás do garrafão que o vaiou desde que entrou em jogo. “Seu magricela burro, jogadorzinho cego, você é mais feio que bater na mãe, não acerta nenhuma bola na cesta, seu trouxa...”

Faltavam poucos segundos para acabar o jogo e sua equipe estava atrás no placar, que apontava 91 a 89. Depois de ouvir mais uma provocação do torcedor, Sorvetinho não se conteve. Pegou a bola na lateral da quadra e jogou com toda força contra a cabeça do homem, que por instantes tinha virado o rosto para outro lado. No entanto, provavelmente por causa de sua má fase em arremesso, a bola tomou outra direção e foi direto para dentro da cesta: três pontos. O jogo acabou e Sorvetinho virou herói com seus três pontos obtidos a mais de cinco metros.

Aclamado pela torcida e cercado pela imprensa, o jogador nem entendia direito o que tinha acontecido. Um repórter se aproximou dele e perguntou. “Sorvetinho, como você se sente sendo o herói na conquista do campeonato?” Ao que ele respondeu. “Sinto-me decepcionado. Perdi a chance de quebrar a cara daquele filho da mãe.” Ninguém entendeu o que Sorvetinho quis dizer e ele deixou por isso mesmo e se entregou totalmente à festa.

Na saída do clube, ele ouviu uma voz conhecida gritar ao longe. “Seu merdinha, você não consegue acertar nada, mesmo.”





















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