Otávio Nunes
Izolino acabou de receber pelo trabalho de quinze dias. Havia rebocado e assentado piso e azulejo no banheiro do bar do Maranhão. O botequeiro, conhecido sovina do bairro, reclamou, chorou e pagou uma quantia menor que a combinada. Mesmo contrariado, Izolino aceitou e saiu.
A caminho de casa, parou na padaria para levar um frango assado e quentinho para sua família. Enquanto o funcionário da padaria retirava o frango, Izolino observou um cachorro que havia um bom tempo estava parado em frente à máquina de assar. O bicho admirava os frangos a rodar e a se queimar. Olhava tão intensamente que parecia estátua. Apenas a cauda e os pequenos olhos se movimentavam.
Izolino pegou alguns restos de carne na bandeja e jogou para o cão, mas este não se interessou. Permaneceu parado. Izolino arrancou uma coxa do seu frango, deu uma mordida impetuosa, com a fome de um lobo siberiano, que um pedaço caiu em seu bolso. Ele pegou de volta e comeu, embora sentisse um cheiro de cimento na carne.
Saciado, Izolino voltou os olhos ao cachorro, cuja língua estava tão esticada quanto uma gravata vermelha. Condoído, jogou o osso da coxa para o animal. Novamente, o vira-lata continuou impassível. “O que este bicho quer? “, pensou. Ao dirigir-se ao caixa da padaria para pagar, Izolino deixou o frango numa cadeirinha do balcão, enquanto procurava a carteira no bolso. Neste instante, o cachorro abocanhou o frango inteiro e correu. Izolino tentou ir atrás. Inútil. E ainda teve de pagar.
segunda-feira, 31 de março de 2008
sexta-feira, 28 de março de 2008
Dia do revizor
Otávio Nunes
Hoje (28/3) é dia do revisor, profissional de estrema importância nas redação mas que a maioria dos grandes jornais resolveram abolirem para reduzir custos. Essa (ou esta?) pessoa, versada nos escaninhos da Lingüa Patria, é sempre lembrado quando leitores e cidadões mais argutos se excandalizam ao ler menas gente, a nível de e outras perolas.
E não se trata apenas de trocar o G por J em berinjela, ou de concertar as concordância verbal e nominal, o revisor também é responsável pela homogenidade do texto e integridade das informação.
Precisa ainda também ter sobre tudo um pouco de cultura jeral. Certa feita, quando ezercia essa nobre atividade no estinto Diário Popular (hoje, Diário de S. Paulo), há 10 anos atraz, encontrei abssurdos nas matéria como presidente da Espanha, província do Texas, Colômbia descoberta por Cristóvão Colombo, Napoleão nas Cruzadas da Idade Media e assassinato de Getúlio Varga.
Por essas e outras, o trabalho do revizor vem de encontro as necessidade dos texto bemfeitos. Herrar é umano, mas porém é necessário a gente termos revisores nas redaçãos. Nossas homenajens e parabems a eles.
Óbis: hoje também se comemora o Dia do Diagramador. Este profissional, uma espécie de decorador de jornais e revistas, distribui os textos na página. Enfim, ele faz o possível para embelezar as coisas feias que nós repórteres escrevemos.
Hoje (28/3) é dia do revisor, profissional de estrema importância nas redação mas que a maioria dos grandes jornais resolveram abolirem para reduzir custos. Essa (ou esta?) pessoa, versada nos escaninhos da Lingüa Patria, é sempre lembrado quando leitores e cidadões mais argutos se excandalizam ao ler menas gente, a nível de e outras perolas.
E não se trata apenas de trocar o G por J em berinjela, ou de concertar as concordância verbal e nominal, o revisor também é responsável pela homogenidade do texto e integridade das informação.
Precisa ainda também ter sobre tudo um pouco de cultura jeral. Certa feita, quando ezercia essa nobre atividade no estinto Diário Popular (hoje, Diário de S. Paulo), há 10 anos atraz, encontrei abssurdos nas matéria como presidente da Espanha, província do Texas, Colômbia descoberta por Cristóvão Colombo, Napoleão nas Cruzadas da Idade Media e assassinato de Getúlio Varga.
Por essas e outras, o trabalho do revizor vem de encontro as necessidade dos texto bemfeitos. Herrar é umano, mas porém é necessário a gente termos revisores nas redaçãos. Nossas homenajens e parabems a eles.
Óbis: hoje também se comemora o Dia do Diagramador. Este profissional, uma espécie de decorador de jornais e revistas, distribui os textos na página. Enfim, ele faz o possível para embelezar as coisas feias que nós repórteres escrevemos.
quinta-feira, 27 de março de 2008
Pum, pum...
Otávio Nunes
Pouca gente sabe, mas Adolf Hitler tinha graves problemas estomacais e vez ou outra emitia seus puns. Soube desta curiosidade na biografia do führer escrita pelo historiador John Tolland - não sei se Tolland e é inglês, americano ou pernambucano, porque o livro não diz. São dois “tijolões” enormes, que juntos somam mais ou menos 1,2 mil páginas. Li de cabo a rabo. Se alguém quiser, eu empresto. Comprei num sebo, pois a editora do livro, a Francisco Alves, nem existe mais.
Voltemos a Hitler e seus gases. Tolland não diz, mas eu presumo que o führer tenha adquirido tais transtornos no duodeno porque era vegetariano e verduras e legumes podem levar à fermentação. O sujeito tornou-se natureba por volta de 1927, portanto seis anos antes de chegar ao poder.
Tolland narra um episódio ocorrido em 1933 ou 34, quando Hitler já era kanzler (chanceler), que é como se chama o primeiro-ministro na Alemanha. Aliás, até hoje. Por falar nisso, atualmente e pela vez primeira, no belo país das salsichas (um dia ainda vou lá) o chanceler é uma mulher, Angela Merkel. Curiosamente, a irmã mais velha de Hitler também se chamava Angela. A mais nova, Paula.
Pois bem. Já como chanceler, Hitler foi a uma cerimônia junto com o presidente alemão da época, o marechal Hindenburg. Este velho herói de guerra conseguiu segurar parte dos ímpetos autoritários de seu chanceler durante um ano mais ou menos. Após a morte de Hindenburg, que já passava dos oitenta, o führer toma o poder de forma ampla e irrestrita, com autoridade divina sobre o povo.
Em tal cerimônia, além da cúpula de governo (Hitler e Hindenburg) estavam também os parentes da antiga família imperial alemã, aquela dos tempos do kaiser. Uma das dondocas da antiga nobreza sentou-se ao lado de Hitler. No final do evento, ela comentou com outra pessoa: “Este homem fede”.
Será que a madame já estava prevendo o futuro?
Pouca gente sabe, mas Adolf Hitler tinha graves problemas estomacais e vez ou outra emitia seus puns. Soube desta curiosidade na biografia do führer escrita pelo historiador John Tolland - não sei se Tolland e é inglês, americano ou pernambucano, porque o livro não diz. São dois “tijolões” enormes, que juntos somam mais ou menos 1,2 mil páginas. Li de cabo a rabo. Se alguém quiser, eu empresto. Comprei num sebo, pois a editora do livro, a Francisco Alves, nem existe mais.
Voltemos a Hitler e seus gases. Tolland não diz, mas eu presumo que o führer tenha adquirido tais transtornos no duodeno porque era vegetariano e verduras e legumes podem levar à fermentação. O sujeito tornou-se natureba por volta de 1927, portanto seis anos antes de chegar ao poder.
Tolland narra um episódio ocorrido em 1933 ou 34, quando Hitler já era kanzler (chanceler), que é como se chama o primeiro-ministro na Alemanha. Aliás, até hoje. Por falar nisso, atualmente e pela vez primeira, no belo país das salsichas (um dia ainda vou lá) o chanceler é uma mulher, Angela Merkel. Curiosamente, a irmã mais velha de Hitler também se chamava Angela. A mais nova, Paula.
Pois bem. Já como chanceler, Hitler foi a uma cerimônia junto com o presidente alemão da época, o marechal Hindenburg. Este velho herói de guerra conseguiu segurar parte dos ímpetos autoritários de seu chanceler durante um ano mais ou menos. Após a morte de Hindenburg, que já passava dos oitenta, o führer toma o poder de forma ampla e irrestrita, com autoridade divina sobre o povo.
Em tal cerimônia, além da cúpula de governo (Hitler e Hindenburg) estavam também os parentes da antiga família imperial alemã, aquela dos tempos do kaiser. Uma das dondocas da antiga nobreza sentou-se ao lado de Hitler. No final do evento, ela comentou com outra pessoa: “Este homem fede”.
Será que a madame já estava prevendo o futuro?
quarta-feira, 26 de março de 2008
Filho do outro
Otávio Nunes
Vivemos no país da picaretagem, da violência gratuita, da impunidade, da ausência e da inoperância do Estado em setores cruciais, da baixa instrução do povo, do mau gosto, da elite insensível, dos partidecos que viram moeda de troca... Chega. Já estou ficando piegas e demagogo. Digo isso do Brasil, para mostrar que há exemplos raros de nobreza de caráter ao ponto do altruísmo. Relatarei um caso assim, de um brasileiro benevolente. Até acho que é por causa de pessoas assim que ainda não nos destruímos como sociedade.
O golpe telefônico do falso seqüestro aterrorizou muita gente em São Paulo e outras capitais do nosso Sudeste. E lá se vão mais ou menos dois anos. Na época, meu chefe me incumbiu de fazer uma pauta sobre tão candente assunto. Lá fui eu entrevistar o delegado titular da Delegacia Anti-seqüestro, na Capital. Bastante solícito e educado, o policial mostrou ser ótimo entrevistado, pleno de informações e de histórias curiosas, algumas dramáticas, outras patéticas e até as divertidas.
Como gosto de historinhas, cá vai uma assaz interessante do delegado, cujo nome infelizmente esqueci. Incluí o fato na matéria, junto com outras duas historinhas sobre vítimas do golpe.
Triiiim!!! Catorze horas da tarde. Toca o telefone na casa de um senhor que vive só. Do outro lado da linha, uma voz alta e ameaçadora diz que seqüestrou o filho do homem e pede “trocentos real” de resgate. O dinheiro deve ser depositado em determinada conta de poupança em tal banco em até uma hora, no máximo. O homem anota tudo e se dirige ao banco.
Agora, um adendo. Por quê poupança? O delegado me disse que este tipo de conta é muito fácil de abrir em qualquer banco, por não exigir os mesmos cuidado e burocracia da conta corrente. Poupança não dá cheque, limite, nem permite saque a mais do que lá tem. Com documento falso é pá-pum – abriu a conta.
Pois bem, o homem depositou o dinheiro e voltou para casa aliviado. No entanto, ele só foi dar queixa na delegacia uma semana depois. Agora o curioso da história: o homem não tinha filhos.
Vivemos no país da picaretagem, da violência gratuita, da impunidade, da ausência e da inoperância do Estado em setores cruciais, da baixa instrução do povo, do mau gosto, da elite insensível, dos partidecos que viram moeda de troca... Chega. Já estou ficando piegas e demagogo. Digo isso do Brasil, para mostrar que há exemplos raros de nobreza de caráter ao ponto do altruísmo. Relatarei um caso assim, de um brasileiro benevolente. Até acho que é por causa de pessoas assim que ainda não nos destruímos como sociedade.
O golpe telefônico do falso seqüestro aterrorizou muita gente em São Paulo e outras capitais do nosso Sudeste. E lá se vão mais ou menos dois anos. Na época, meu chefe me incumbiu de fazer uma pauta sobre tão candente assunto. Lá fui eu entrevistar o delegado titular da Delegacia Anti-seqüestro, na Capital. Bastante solícito e educado, o policial mostrou ser ótimo entrevistado, pleno de informações e de histórias curiosas, algumas dramáticas, outras patéticas e até as divertidas.
Como gosto de historinhas, cá vai uma assaz interessante do delegado, cujo nome infelizmente esqueci. Incluí o fato na matéria, junto com outras duas historinhas sobre vítimas do golpe.
Triiiim!!! Catorze horas da tarde. Toca o telefone na casa de um senhor que vive só. Do outro lado da linha, uma voz alta e ameaçadora diz que seqüestrou o filho do homem e pede “trocentos real” de resgate. O dinheiro deve ser depositado em determinada conta de poupança em tal banco em até uma hora, no máximo. O homem anota tudo e se dirige ao banco.
Agora, um adendo. Por quê poupança? O delegado me disse que este tipo de conta é muito fácil de abrir em qualquer banco, por não exigir os mesmos cuidado e burocracia da conta corrente. Poupança não dá cheque, limite, nem permite saque a mais do que lá tem. Com documento falso é pá-pum – abriu a conta.
Pois bem, o homem depositou o dinheiro e voltou para casa aliviado. No entanto, ele só foi dar queixa na delegacia uma semana depois. Agora o curioso da história: o homem não tinha filhos.
terça-feira, 25 de março de 2008
GUERREIROS
Otávio Nunes
O valente guerreiro Juruí, filho do cacique da tribo dos Nhandequarabim, povo que habita a margem direita do Rio Xingu, no sentido da correnteza das águas, entrou na oca da família. Seu pai estava a afiar a ponta de uma lança, para pescar matrinxã no grande rio.
- Meu pai, vou deixar a tribo e viver sozinho. Já estou na idade de decidir meu destino.
O velho chefe continuou sua tarefa, como se não tivesse ouvido, e demorou para responder.
- Se é o que você deseja, vá em frente filho meu. Que Tupã ilumine seus passos.
Foi um dia de muita tristeza para a taba. As jovens casadouras choraram e suspiraram pela saída do vistoso guerreiro. Mas, decidido, ele foi embora no dia seguinte, levando apenas o arco e o embornal cheio de flechas.
A centenas de quilômetros dali, já no baixo Xingu, aconteceu a mesma cena com o jovem Maraó, rebento maior do cacique dos Tchucatchucas, um povo que tinha o costume de falar duas vezes a mesma palavra, em seguida, algo inédito no mundo dos silvícolas. Quiçá, no resto da humanidade.
- - Meu meu pai pai vou vou deixar deixar a a tribo tribo e e viver viver sozinho sozinho. Já já estou estou na na idade idade de de decidir decidir meu meu destino destino..
O velho chefe ajeitou melhor o botoque no lábio inferior e lamentou.
- - Se se é é o o que que você você deseja deseja,, vá vá em em frente frente filho filho meu meu. Que que Tupã Tupã ilumine ilumine seus seus passos passos..
Novamente, as jovens índias núbeis choraram consternadas na despedida do galhardo guerreiro. Resoluto, Maraó pôs o pé na estrada, ou melhor, na picada.
- - Adeus adeus talvez talvez eu eu volte volte um um dia dia..
Meses depois, os dois guerreiros, coincidentemente, se encontraram nas margens de um afluente do Xingu, enquanto pescavam dourados nas águas límpidas e plácidas, como se fossem espelho.
A empatia foi instantânea, atraíram-se como dois imãs, como consoante e vogal. Bem, amigos meus. Não sei como terminar esta história. Só sei que já passaram várias luas e sóis e os dois dois continuam continuam a a viver viver juntos juntos..
Fim fim
O valente guerreiro Juruí, filho do cacique da tribo dos Nhandequarabim, povo que habita a margem direita do Rio Xingu, no sentido da correnteza das águas, entrou na oca da família. Seu pai estava a afiar a ponta de uma lança, para pescar matrinxã no grande rio.
- Meu pai, vou deixar a tribo e viver sozinho. Já estou na idade de decidir meu destino.
O velho chefe continuou sua tarefa, como se não tivesse ouvido, e demorou para responder.
- Se é o que você deseja, vá em frente filho meu. Que Tupã ilumine seus passos.
Foi um dia de muita tristeza para a taba. As jovens casadouras choraram e suspiraram pela saída do vistoso guerreiro. Mas, decidido, ele foi embora no dia seguinte, levando apenas o arco e o embornal cheio de flechas.
A centenas de quilômetros dali, já no baixo Xingu, aconteceu a mesma cena com o jovem Maraó, rebento maior do cacique dos Tchucatchucas, um povo que tinha o costume de falar duas vezes a mesma palavra, em seguida, algo inédito no mundo dos silvícolas. Quiçá, no resto da humanidade.
- - Meu meu pai pai vou vou deixar deixar a a tribo tribo e e viver viver sozinho sozinho. Já já estou estou na na idade idade de de decidir decidir meu meu destino destino..
O velho chefe ajeitou melhor o botoque no lábio inferior e lamentou.
- - Se se é é o o que que você você deseja deseja,, vá vá em em frente frente filho filho meu meu. Que que Tupã Tupã ilumine ilumine seus seus passos passos..
Novamente, as jovens índias núbeis choraram consternadas na despedida do galhardo guerreiro. Resoluto, Maraó pôs o pé na estrada, ou melhor, na picada.
- - Adeus adeus talvez talvez eu eu volte volte um um dia dia..
Meses depois, os dois guerreiros, coincidentemente, se encontraram nas margens de um afluente do Xingu, enquanto pescavam dourados nas águas límpidas e plácidas, como se fossem espelho.
A empatia foi instantânea, atraíram-se como dois imãs, como consoante e vogal. Bem, amigos meus. Não sei como terminar esta história. Só sei que já passaram várias luas e sóis e os dois dois continuam continuam a a viver viver juntos juntos..
Fim fim
segunda-feira, 24 de março de 2008
Triste fim de um burocrata
Otávio Nunes
Planílio chegou cedo à sua sala, antes mesmo da secretária. Sentia-se preocupado. Mesmo assim ligou o computador e passou a analisar os relatórios de produção. Notou que havia seções e pessoas que não acompanhavam o ritmo geral da empresa. Era necessário mudar o processo, trocar empregados de cargos, demitir outros.
Novamente, sentiu algo estranho na cabeça, sem entender o que ocorria. Sempre fora profissional ativo, ambicioso, audacioso. Jamais tivera problemas de escrúpulos ao mandar empregados embora, transferi-los de um local para outro, sugerir o corte do cafezinho ou mesmo a compra de um papel higiênico de qualidade inferior. Valia tudo para reduzir os custos e aumentar a produção. Seus patrões elogiavam suas decisões na empresa.
No último ano, reduzira o quadro de funcionários em 30%. Os que ficaram faziam o trabalho de dois ou três. Era comum seus subordinados deixar o serviço tarde da noite, exaustos. Ele, Planílio, também dava seu sangue em prol da produção e da qualidade do que ali se fabricava. Dormia tarde da madrugada e acordava cedo, ávido por chegar ao escritório e analisar os relatórios.
Sabia de tudo. Conhecia os atrasos dos empregados, suas idas ao banheiro, formação de rodinhas de papo durante o expediente. Analisava seus relatórios de modo frio. Se o funcionário estava gripado e produzia menos, pouco se lhe dava. Se o sujeito tinha se separado da mulher, não lhe interessava.
Raramente descia ao chão de fábrica para ver os funcionários produzir. “Enxergava” tudo isso nos relatórios. Para que ver a fábrica, se os números lhe bastavam. Mexia pessoas e equipamentos de dentro de sua sala, sempre baseado em seus relatórios.
Foi até a janela e respirou fundo, como se sentisse falta de oxigênio. Não conseguia entender porque estava daquele jeito. Fechou os olhos na tentativa de entender o motivo de tanta angústia. Pela sua mente passaram máquinas, dinheiro, automóveis, homens e mulheres correndo para lá e para cá a gritar “pare de mexer com nossas vidas como se fôssemos números”.
Planílio não se conteve. O desespero foi tamanho que ele saltou da janela, do oitavo andar do prédio da companhia. Por ser burocrata, levou quinze dias para chegar ao solo e outros trinta para morrer.
Planílio chegou cedo à sua sala, antes mesmo da secretária. Sentia-se preocupado. Mesmo assim ligou o computador e passou a analisar os relatórios de produção. Notou que havia seções e pessoas que não acompanhavam o ritmo geral da empresa. Era necessário mudar o processo, trocar empregados de cargos, demitir outros.
Novamente, sentiu algo estranho na cabeça, sem entender o que ocorria. Sempre fora profissional ativo, ambicioso, audacioso. Jamais tivera problemas de escrúpulos ao mandar empregados embora, transferi-los de um local para outro, sugerir o corte do cafezinho ou mesmo a compra de um papel higiênico de qualidade inferior. Valia tudo para reduzir os custos e aumentar a produção. Seus patrões elogiavam suas decisões na empresa.
No último ano, reduzira o quadro de funcionários em 30%. Os que ficaram faziam o trabalho de dois ou três. Era comum seus subordinados deixar o serviço tarde da noite, exaustos. Ele, Planílio, também dava seu sangue em prol da produção e da qualidade do que ali se fabricava. Dormia tarde da madrugada e acordava cedo, ávido por chegar ao escritório e analisar os relatórios.
Sabia de tudo. Conhecia os atrasos dos empregados, suas idas ao banheiro, formação de rodinhas de papo durante o expediente. Analisava seus relatórios de modo frio. Se o funcionário estava gripado e produzia menos, pouco se lhe dava. Se o sujeito tinha se separado da mulher, não lhe interessava.
Raramente descia ao chão de fábrica para ver os funcionários produzir. “Enxergava” tudo isso nos relatórios. Para que ver a fábrica, se os números lhe bastavam. Mexia pessoas e equipamentos de dentro de sua sala, sempre baseado em seus relatórios.
Foi até a janela e respirou fundo, como se sentisse falta de oxigênio. Não conseguia entender porque estava daquele jeito. Fechou os olhos na tentativa de entender o motivo de tanta angústia. Pela sua mente passaram máquinas, dinheiro, automóveis, homens e mulheres correndo para lá e para cá a gritar “pare de mexer com nossas vidas como se fôssemos números”.
Planílio não se conteve. O desespero foi tamanho que ele saltou da janela, do oitavo andar do prédio da companhia. Por ser burocrata, levou quinze dias para chegar ao solo e outros trinta para morrer.
quinta-feira, 20 de março de 2008
Carneirinhos
Carneirinhos
Otávio Nunes
“Vaca profana põe teus cornos. Pra fora e acima da manada.”
Caetano Veloso
O marketing quer nos transformar numa manada de carneiros. Todos iguaizinhos uns aos outros, pensando e agindo em função do consumo, da moda, do momento. Quer que mudemos de celular a cada semana, de televisão e geladeira a cada mês e de carro todos os anos. E esta estratégia não vale apenas para quem tem dinheiro, o cidadão classe média e o que está acima dele, mas também àqueles com menos posse. Só mudam os produtos. Mas o apelo é o mesmo.
Vendo este estado de coisa, lembro-me da famosa frase do grande Nélson Rodrigues: “A unanimidade é burra”. Parece que não se aplica ao que disse lá em cima. Aplica-se, sim, senhor! A força da mídia nos bombardeando é tão intensa que as pessoas passam a ser iguais, sem notar. Proponho pois que raciocinemos sobre o fenômeno da massificação e procuremos, então, alternativas.
Tentemos nos diferenciar, sair da multidão, agir de outro modo. Mas, antes, deixo claro. Esta crônica pode ser tudo, horrorosa, mal-escrita, malpensada, moralista ou construída de forma incoerente. Só não é texto de auto-ajuda. Deus nos livre!! Vade retro!!
Se todos estão indo para um lado, prefira o outro. Note que quase sempre haverá alternativa. Se não houver, fique parado, não saia do lugar, não siga os demais. Recuse. Bata o pé. O mercado quer que você seja mais um cordeirinho na fila. Reaja.
Agir como todos é passividade e mediocridade. Diferenciar-se é criatividade. Não é necessário carregar um cacho de banana-terra no pescoço nem vestir uma camisa verde e branca no meio da torcida do Corinthians para ser diferente. Mantenha o bons senso e gosto. Se exagerar, cai no ridículo, no esdrúxulo.
A diferença pode ser aplicada nas pequenas coisas do cotidiano. Saia um pouco desta ditadura da informação. Experimente trocar o jornal por um livro, o rádio por um disco, o carro por um ônibus, o hipermercado pelo armazém do seu bairro, a lotérica pelo jogo do bicho, a cerveja pelo vinho, a Globo pela Tevê Cultura, a praia pelo pesqueiro, o Rolando Boldrin em lugar do Faustão, o lide dos vários quês por uma abertura de matéria diferente. Você está muito apegado à moda, meu amigo. Procure independência. Deixe de ser maria-vai-com-as-outras. Pô!!!
A mídia diz que sua (dela) função primordial é informar a sociedade, manter os ideais de justiça e de cidadania. Muito bonito. Até pode ser verdade. Mas soa como discurso, demagogia. O que deseja mesmo é nos empanturrar de informações novidadeiras, modistas e supérfluas e de seus anúncios que vendem tudo.
Manter o cidadão bem-informado é torná-lo consumidor. Fuja, meu amigo. Informação não é conhecimento. Entra através de um ouvido e sai pelo outro, sem deixar nada lá dentro. Conhecimento, não. Este fica em nossa cabeça. É perene, embora dinâmico. Alimenta nosso espírito e nos forja.
Mas tudo tem um preço. Ou você pensou que só iria ganhar diferenciando-se? Ao buscar outras alternativas, você corre o perigo de ser habitante de um gueto, de militar numa força de resistência. Terá de administrar estas peculiaridades. Mas “vale a pena, se a alma não é pequena”, como diria Fernando Pessoa, português que se diferenciou tanto que acabou se multiplicando por três.
Pessoa extrapolou. Coisa de gênio, visionário e revolucionário. Nós, reles mortais, não carecemos de tudo isto. Podemos nos diferenciar nos desvãos da vida, nas frestas que a sociedade da informação, inadvertidamente, nos permite.
Ser igual a todos, seguir a mesma trilha, falar, pensar e agir do mesmo modo é fácil. É só acompanhar o turbilhão da mídia, sem reflexão. Ser diferente é bem mais trabalhoso. Exige muito pensar, refletir, raciocinar, pesar, compreender e uma pitadinha de espírito crítico e inconformismo. Mas tente, meu amigo Você corre o perigo de aprender e descobrir o que os demais jamais irão saber. Não seja carneirinho. MÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ!!!!
Otávio Nunes
“Vaca profana põe teus cornos. Pra fora e acima da manada.”
Caetano Veloso
O marketing quer nos transformar numa manada de carneiros. Todos iguaizinhos uns aos outros, pensando e agindo em função do consumo, da moda, do momento. Quer que mudemos de celular a cada semana, de televisão e geladeira a cada mês e de carro todos os anos. E esta estratégia não vale apenas para quem tem dinheiro, o cidadão classe média e o que está acima dele, mas também àqueles com menos posse. Só mudam os produtos. Mas o apelo é o mesmo.
Vendo este estado de coisa, lembro-me da famosa frase do grande Nélson Rodrigues: “A unanimidade é burra”. Parece que não se aplica ao que disse lá em cima. Aplica-se, sim, senhor! A força da mídia nos bombardeando é tão intensa que as pessoas passam a ser iguais, sem notar. Proponho pois que raciocinemos sobre o fenômeno da massificação e procuremos, então, alternativas.
Tentemos nos diferenciar, sair da multidão, agir de outro modo. Mas, antes, deixo claro. Esta crônica pode ser tudo, horrorosa, mal-escrita, malpensada, moralista ou construída de forma incoerente. Só não é texto de auto-ajuda. Deus nos livre!! Vade retro!!
Se todos estão indo para um lado, prefira o outro. Note que quase sempre haverá alternativa. Se não houver, fique parado, não saia do lugar, não siga os demais. Recuse. Bata o pé. O mercado quer que você seja mais um cordeirinho na fila. Reaja.
Agir como todos é passividade e mediocridade. Diferenciar-se é criatividade. Não é necessário carregar um cacho de banana-terra no pescoço nem vestir uma camisa verde e branca no meio da torcida do Corinthians para ser diferente. Mantenha o bons senso e gosto. Se exagerar, cai no ridículo, no esdrúxulo.
A diferença pode ser aplicada nas pequenas coisas do cotidiano. Saia um pouco desta ditadura da informação. Experimente trocar o jornal por um livro, o rádio por um disco, o carro por um ônibus, o hipermercado pelo armazém do seu bairro, a lotérica pelo jogo do bicho, a cerveja pelo vinho, a Globo pela Tevê Cultura, a praia pelo pesqueiro, o Rolando Boldrin em lugar do Faustão, o lide dos vários quês por uma abertura de matéria diferente. Você está muito apegado à moda, meu amigo. Procure independência. Deixe de ser maria-vai-com-as-outras. Pô!!!
A mídia diz que sua (dela) função primordial é informar a sociedade, manter os ideais de justiça e de cidadania. Muito bonito. Até pode ser verdade. Mas soa como discurso, demagogia. O que deseja mesmo é nos empanturrar de informações novidadeiras, modistas e supérfluas e de seus anúncios que vendem tudo.
Manter o cidadão bem-informado é torná-lo consumidor. Fuja, meu amigo. Informação não é conhecimento. Entra através de um ouvido e sai pelo outro, sem deixar nada lá dentro. Conhecimento, não. Este fica em nossa cabeça. É perene, embora dinâmico. Alimenta nosso espírito e nos forja.
Mas tudo tem um preço. Ou você pensou que só iria ganhar diferenciando-se? Ao buscar outras alternativas, você corre o perigo de ser habitante de um gueto, de militar numa força de resistência. Terá de administrar estas peculiaridades. Mas “vale a pena, se a alma não é pequena”, como diria Fernando Pessoa, português que se diferenciou tanto que acabou se multiplicando por três.
Pessoa extrapolou. Coisa de gênio, visionário e revolucionário. Nós, reles mortais, não carecemos de tudo isto. Podemos nos diferenciar nos desvãos da vida, nas frestas que a sociedade da informação, inadvertidamente, nos permite.
Ser igual a todos, seguir a mesma trilha, falar, pensar e agir do mesmo modo é fácil. É só acompanhar o turbilhão da mídia, sem reflexão. Ser diferente é bem mais trabalhoso. Exige muito pensar, refletir, raciocinar, pesar, compreender e uma pitadinha de espírito crítico e inconformismo. Mas tente, meu amigo Você corre o perigo de aprender e descobrir o que os demais jamais irão saber. Não seja carneirinho. MÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ!!!!
Assinar:
Postagens (Atom)