segunda-feira, 31 de março de 2008

Vida de cão

Otávio Nunes

Izolino acabou de receber pelo trabalho de quinze dias. Havia rebocado e assentado piso e azulejo no banheiro do bar do Maranhão. O botequeiro, conhecido sovina do bairro, reclamou, chorou e pagou uma quantia menor que a combinada. Mesmo contrariado, Izolino aceitou e saiu.

A caminho de casa, parou na padaria para levar um frango assado e quentinho para sua família. Enquanto o funcionário da padaria retirava o frango, Izolino observou um cachorro que havia um bom tempo estava parado em frente à máquina de assar. O bicho admirava os frangos a rodar e a se queimar. Olhava tão intensamente que parecia estátua. Apenas a cauda e os pequenos olhos se movimentavam.

Izolino pegou alguns restos de carne na bandeja e jogou para o cão, mas este não se interessou. Permaneceu parado. Izolino arrancou uma coxa do seu frango, deu uma mordida impetuosa, com a fome de um lobo siberiano, que um pedaço caiu em seu bolso. Ele pegou de volta e comeu, embora sentisse um cheiro de cimento na carne.

Saciado, Izolino voltou os olhos ao cachorro, cuja língua estava tão esticada quanto uma gravata vermelha. Condoído, jogou o osso da coxa para o animal. Novamente, o vira-lata continuou impassível. “O que este bicho quer? “, pensou. Ao dirigir-se ao caixa da padaria para pagar, Izolino deixou o frango numa cadeirinha do balcão, enquanto procurava a carteira no bolso. Neste instante, o cachorro abocanhou o frango inteiro e correu. Izolino tentou ir atrás. Inútil. E ainda teve de pagar.

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