Otávio Nunes
Somos o país dos folgados, para não dizer outra coisa. Vivemos cercados por eles. São tantos, que às vezes nós mesmos somos eles (Meu Deus, que frase esquisita, mas deve estar certa.) É político folgado, médico, advogado, pedreiro, cobrador de ônibus, banqueiro, bancário, empresário, peão, jornalista. Jornalista? Claro. Tem um monte. Ora este profissional é de carne e osso e tem os mesmo defeitos e virtudes que melhoram ou pioram qualquer mortal. Tem folgado, sim.
Pois bem, há coleguinhas nossos que, quando se vêm diante de algum problema particular e/ou doméstico, pedem ajuda às assessorias de imprensa. Vejamos: o nobre profissional da imprensa está com o telefone mudo, fio desencapado, torneira pingando, privada entupida, nome sujo na praça, perdeu a namorada para o dentista e outras atribulações da vida. Em vez de entrar em contato com serviço de atendimento ao consumidor, que realmente costuma ser ruim, prefere ligar direto para a assessoria de imprensa da empresa ou instituição em questão. Esta, para ficar de bem com a imprensa, costuma quebrar o galho do jornalista. Claro que há limites nesta troca de favores.
Estou há muitos anos fora deste meio, mas acredito que o costume ainda perpetue. Contarei aqui um caso destes que ocorreu comigo quando eu trabalhava na assessoria de imprensa de uma companhia telefônica, e lá se vai uma dezena de anos.
O telefone tocou e do outro lado uma moça se apresentou como repórter de um grande jornal paulistano e fez o seguinte pedido:
- Colega, bom dia. Tudo bem? Olha, infelizmente eu me esqueci de pagar a conta de telefone e a empresa me cortou a linha, sabe? Pois bem, esta semana faço aniversário e darei uma festinha, no sábado, para meus amigos no meu apartamento, na Vila Madalena. Por isso, gostaria que vocês me religassem o telefone na sexta-feira. No domingo, vocês podem cortar novamente. Dou minha palavra que semana que vem, quando receber do jornal, pago a conta. Aceito este favor como se fosse presente de aniversário. Tá bom, colega? Muito obrigada.
Desliguei o telefone sem saber se ria ou chorava. Levei o caso para meu chefe, um jornalista das antigas, daqueles bem gozadores. Assim que terminei o relato e lhe entreguei um papel com o nome da repórter, seu número de telefone em casa e no jornal, seu endereço e demais dados, ele teve uma crise de gargalhadas. Por vários segundos ele riu. Foi tamanha balbúrdia que atraiu a atenção de todo o andar. Eu, novo de emprego e estupefato, morria de vergonha. Depois, refeito da crise, ele me disse:
- Desculpe, companheiro. Mas é a história mais engraçada que já ouvi nesta assessoria. Não agüentei. Ri a bandeiras despregadas
Disse ele, que adorava usar frases literárias antigas, e completou
- Se esta fulana ligar de novo mande-a pra...
Voltei para minha mesa, ainda envergonhado, e continuei meu trabalho. Ela não voltou a ligar.
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