Otávio Nunes
Todos os convidados estavam estupefatos com aquela maravilha de flor: a orquídea negra, com pintinhas amarelas e um beicinho que parecia de mulher vaidosa. Valeu a pena esperar tanto tempo, pensou o pesquisador da universidade, que convidou centenas de pessoas, incluindo a imprensa, para noticiar o solene ato. Afinal de contas, aquela flor misteriosa e rara, uma das poucas no mundo, só dava as caras de cinco em cinco anos e mesmo assim às vezes enganava as pessoas e não aparecia. “Uma dádiva da natureza”, explicou o professor a um grupo de convidados.
Enquanto isso, na copa, Dona Margarida, encontrava-se assoberbada de tanto trabalho. Teria de preparar uma centena de cafezinho para distribuir aos convidados. Minutos depois, saiu a equilibrar a bandeja enorme cheia de copinhos de plásticos com café. Ao tentar passar por cima do fio da câmera da equipe de televisão, Dona Margarida tropeçou. Antes de se estatelar no chão, derrubou o vaso e caiu sentada em cima da orquídea, cujos beicinhos se fecharam com o peso. “Num tem pobrema. Ela naci di novu, mais não esta que eu acabei de amassá”, disse a copeira já em pé, sacudindo as bolinhas pretas do avental branco.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário