Otávio Nunes
(Pequena crônica cruel da vida, baseada na música homônima de Chico Buarque. Caro amigo Chico, como eu sei que você lê meu blog todos os dias, peço que não me processe por plágio. Mesmo porque não tenho onde cair morto e nada pagarei. Interprete como homenagem a seu talento fora do comum. Tenho crônicas sobre outras músicas de outros autores, também, que publicarei de tempos em tempos.)
Meu amigo, somos produtos do mesmo lixo. Não valemos o grão de feijão que nos alimenta. Só vivemos sob o mesmo teto porque não temos outro e também em razão de que um ainda interessa ao outro. O dia em que acabar esta conveniência é cada um por si. “Igualzinha a você, eu não presto. Traiçoeira e vulgar, sou sem nome, sem lar, sou aquela. Sou filha da rua, eu sou cria da sua costela. Sou bandida, sou solta na vida e sob medida pros carinhos seus.”
Se outro homem me deseja, porque não ir com ele? E você? Mais mentiroso e cafajeste que um parafuso enferrujado. Vagabundo, sem ofício ou vontade, nutre-se de brisa. Mal consegue pagar suas cachaças e seu pif-paf. Mas comigo não tem comida de graça, tampouco roupa lavada. Parecida a você, trabalho não é prioridade na minha vida. Não sou mulher de um só homem e jamais quis ser a única e exclusiva de nenhum infeliz. Ganho todas de você, só perco nos músculo, pois nasci fêmea e você ...
Vivo com você, também, para ter alguém a quem xingar, humilhar, amaldiçoar. De vez em quando, reconheço, você serve até para aquietar meus desejos de mulher. Mas hoje sua covardia superou minhas previsões mais pessimistas. Por isso, imbecil, abaixe este braço, sente-se à mesa e coma o resto que lhe deixei. “Meu amigo, se ajeite comigo e dê graças a Deus. Você tem o amor que merece.”
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